quinta-feira, 3 de novembro de 2011

BOÉCIO














BOÉCIO
dizendo adeus à sua família
óleo de Jean Victor Schnetz




Quem te traiu, Boécio? Esmagado
na roda da fortuna, que farás?
A dama mal vestida, o que traz
nas dobras do seu manto remendado?

Que silogismo deu mau resultado?
Se os vícios de que o mundo é capaz
não perturbavam a serena paz
que desejavas, como condenado?

Entraste na prisão estoicamente.
Naquela escuridão tinhas a mente
e a luz perfeita da filosofia.

Morrendo o tempo, só a eternidade
te consolava. Única verdade
que a dama mal vestida te trazia.


Abel da Cunha

























A CONSOLAÇÃO DA FILOSOFIA

"Eu, que outrora compunha poemas plenos de alegria,
Ai, sou agora forçado a usar de tristes metros!
E eis que as Musas me ditam versos de dor,
E as elegias enchem meu rosto de verdadeiras lágrimas.
Pelo menos elas não foram tomadas de medo
Nem deixaram de ser companheiras neste amargo caminho.

Glória de uma juventude ourora feliz e promissora,
Consolam agora o destino infeliz de minha velhice,
Pois repentinamente veio a inesperada velhice,
E com ela todos os seus sofrimentos.

De repente minha cabeça encheu-se de cabelos brancos,
E o meu corpo cobriu-se de rugas.
A morte do homem é feliz quando, se atacar os doces anos,
Nos acolhe no momento próprio, e atende ao chamado dos doentes.

Mas ah!, como ela sabe se fazer surda aos miseráveis,
E, cruel, ignorar os olhos em prantos!
Quando a malévola Fortuna me favorecia com bens perecíveis,
Quase me arrastou para a queda fatal.
Mas agora, tendo revelado seu vulto enganoso,
Eu imploro, e a morte se nega a vir a mim.
Por que proclamastes muitas vezes minha felicidade amigos?
Quem se desvia é porque não estava no caminho certo".

BOÉCIO, A Consolação da Filosofia
Tradução: Willian Li


Sem comentários: