segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

PORTUGAL

 
 
 
 
 
MIGUEL DE UNAMUNO
Ignacio de Zuloaga
 
 
 
 
Del atlántico mar en las orillas
desgreñada y descalza una matrona
se sienta al pie de sierra que corona
triste pinar. Apoya en las rodillas
 
los codos y en las manos las mejillas
y clava ansiosos ojos de leona
en la puesta del sol; el mar entona
su trágico cantar de maravillas.
 
Dice de luengas tierras y de azares
mientras ella sus pies en las espumas
bañando sueña el fatal imperio
 
que se hundió en los tenebrosos mares,
y mira cómo entre agoreras brumas
se alza Don Sebastián, rey del mistério.
 
Miguel de Unamuno
in Rosario de Sonetos Líricos (1911)
 


HANNIBAL







 
 
 
 
 
 
HANNIBAL
Sébastien Slodtz, Museu do Louvre




Deixai tocar a tuba clangorosa
Que faz mover a máquina da guerra.
Em guerra vai Cartago poderosa
Marchando contra o céu e contra a terra.

Deixai passar a turba numerosa
Por sobre a neve atravessando a serra
Atrás dos elefantes. Como ousa
Hannibal ir onde só Roma impera?
 
Dos deuses carregava um juramento:
Vingar o vil tributo dos romanos
A ferro e fogo e sangue violento.
 
Atormentou a Itália por dez anos.
Mas de regresso a casa em Cartago
Bebeu entre ruinas vinho amargo.
 
Abel da Cunha

------------------------------------------------

Vinse Anibàle e non seppe usar poi
ben la vittoriosa sua ventura;
però, signor mio caro, aggiate cura
che similmente non avegna a voi.

Francesco Petrarca, Rimas (103)

Venceu Aníbal, sem saber após
usar vitoriosa tal ventura;
mas, caro senhor meu, hajais vós cura,
não vos suceda a mesma coisa a vós.

(Versão de Vasco Graça Moura)
 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CÓMO ERA?








DÁMASO ALONSO
(1898-1990)
René Magritte
A Condição Humana 1935


La puerta, franca.
                           Vino queda y suave.
Ni matéria ni espíritu. Traía
una ligera inclinación de nave
y una luz matinal de claro día.

      No era de ritmo, no era de armonía
   ni de color. El corazón la sabe,
   pero decir cómo era no podría
   porque no es forma ni en la forma cabe.

      Lengua, barro mortal, cincel inepto,
   deja la flor intacta del concepto
   en esta clara noche de mi boda,

      y canta mansamente, humildemente,
   la sensación, la sombra, el acidente,
   mientras ella me llena el alma toda!

   Dámaso Alonso

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

MEMÓRIA IMPERFEITA









Fernão de Magalhães Gonçalves
Jou/Murça 1943
Seul/Coreia do Sul 1988


Ao Fernão de Magalhães Gonçalves

Não te pude seguir nos traços do destino
Porque dobraste a esquina noutra direção;
Como cigano errante andaste peregrino
Por terras onde havia amor e perdição.

Calaram-se em Granada os cravos e as rosas.
Só romanceia o vento, suspirando a erva.
Foste a Seul e ainda não voltaste. Agora
Um pássaro de pedra dura à tua espera.

Levanto este padrão - memória imperfeita -
Na foz do grande rio onde Caronte espreita
Levando ao esquecimento anónimos mortais.

Quiseste ser poeta. E eu vejo-te tão alto
Que mesmo dessa altura me pareces perto
Em páginas abertas que não fecho mais.

Abel da Cunha