sexta-feira, 21 de março de 2014

POESIA












O lírico segredo
Por ninguém desvendado
Na manhã de neblina
Deixá-lo ir assim...
Eu fico livre e calmo,
Sem amor, sem saudade...
O peso das palavras
Evolou-se... Neblina...
E a poesia nasce
Como se fosse música...

Cristovam Pavia
in Poesia

BRANCURA











Fala a musa dos píncaros

Dice ela:
- Baixarei ós vales,
quero ver as cerdeiras
coa airosa pompa das froriñas brancas,
mimos da primavera…

E indócil xenio da montaña altiva,
arrogante, contesta:
- Nin armiños, nin frores, nin escumas;
si fala Dios lles dera
ós seixos albos da fragosa encosta,
e á mística azucena,
acordes, oh insensata, gritariam:
brancura a das folerpas!

A. Noriega Varela
in Do Ermo

domingo, 2 de março de 2014

ADEUS, Ó PORTO

















Adeus, ó Porto adeus; fica-te embora,
Que eu já não posso mais; porque me cansa
Tanto chá, tanto Whist, tanta dança,
E tanta cousa mais que calo agora.

Não era há pouco assim: tudo empiora,
O bem se acaba, o mal raízes lança;
E tem-se feito em tudo tal mudança,
Que até por novo estilo se namora.

Adeus, pois: porque o resto de meus dias
Quero dar às lições dos desenganos
Sempre saudáveis, posto que tardias.

Adeus casas de brinco; adeus enganos;
Chichisbéus, Excelências, Senhorias;
Adeus Ninfas gentis, que fazeis anos.

Paulino António Cabral de Vasconcellos
(Abade de Jazente)