sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ARTEFACTOS

É preciso abrir bem os olhos para os prodígios que nos rodeiam.
Pegar nos objectos e descobrir os tesouros que a imaginação supõe.
Realçar-lhes as formas sedutoras da beleza e despertar o desejo de as ter.
Todos somos alquimistas para tentar o ouro da nossa medida.

A Marta faz isso, com naturalidade.
Aproveita artes antigas (origami) e
transforma-se em encantadora de serpentes e de pássaros,
estende correntes de prata e nodifica cordas,
dedilha contas e metais,
criando artefactos que nos ficam bem.

Alumia os materiais adestrados com o génio da sua lâmpada.

Os origamis e espanta-espíritos são deslumbrantes.
Os brincos, os anéis, os colares, as pulseiras, os alfinetes, os medalhões, os ganchos dos cabelos, são excelentes adereços para enfeitar o nosso dia-a-dia de actores no teatro social.
Só quem os não puder usar!

A Marta apresenta os artefactos no seu blogue:
(DKHorse. Blogspot.com)
“People say that I’m a dark horse, because of all that I can do”.

Vale a pena visitar este blogue.

Abel Cunha

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O CORREIO

Para o Manel
Tanto frio vai lá fora.
Tanto frio… Nem me lembro
Se já é Janeiro agora
Ou se ainda é Dezembro.
Batem à porta. – Quem ousa
Vir hoje cantar janeiras?
- São notícias derradeiras
Feitas de verso e de prosa.
Fui abrir. Era o correio.
Entre cartas e papel
Vinham dois livros no meio
Assinados : Manuel.
Não sei como, num repente,
O tempo ficou mais quente.

Abel Cunha30.01.2009

Foto: Rosa Ribeiro - gelo em Pombal de Ansiães.

Nota: Os dois livros, remetidos pelo Manel (Cláudio Lima), eram Outrora Dezembro e Contos Baldios. O poema, abaixo transcrito, é do livro Outrora Dezembro.


Outrora Dezembro

Inventamos Dezembro no aconchego dos mortos
revolvendo uma brasa viva de memória;
a brasa queima as raízes do passado:
belos coletes e fartos bigodes cerzidos
na galeria rútila das cinzas.

Um aroma de musgo entranha-se nas pedras,
as lápides tumulares do nosso sonho.
E assim este Dezembro vai crescendo
em espiral de neve incandescente.

Minha avó tricotando a santidade,
meu avô flauteando estrofes de bronquite
e um brinquedo mágico desfeito
em sádica autópsia, já longe,
quando um trovão rolava entre os meus braços
as fonéticas iras do Senhor. Então orava;
juntava os pecados todos numa lágrima
e jurava.
Jurava ao pé do lume estarrecido.
Eriçado Dezembro fustigava os tectos,
uma pinha benta ardia sob os olhos
pávidos, a espuma do céu caindo aos urros
sobre a fé intimidada dos adultos.

E assim recebi o ósculo do medo
dos lúgubres vendavais. Era Dezembro,
havia manchas de sombra em cada rosto.

Cláudio Lima