José Malhoa
"Milho ao Sol"
Há quanto tempo o milho
está na eira!
Depois das estações não anda
o rodo
A resguardar no alpendre o
ouro todo
No fim de tanta tarde
soalheira?
Já não se ergue o malho. A
canseira
Não segue regular o velho
modo
Em que o suor se vê em
cada poro
Como a água fluindo na
regueira.
Já não há espigas nem
morrão nem barbas
Nem milho rei das noites
desfolhadas
Ao som dos beijos e da
concertina.
Nem desce da colina o bom
moleiro
Que vem trocar os grãos do
meu celeiro
Pela brancura fina da
farinha.
Abel da Cunha
1 comentário:
Ora cá está o espírito da aldeia do nosso Minho. Eis a "pátria do milho e do pão dourado" que dourado era o suor das gentes do seu trato: a rabiça do arado, o puxar da enxada costumeira, o semear do grão nas leivas, a regar paciente dos pés rugosos e sieirentos, o mondar dos verdes larápios clorofilentos, o colher das espigas no tempo certo e o desfolhar paciente à luz do luar e da concertina! Era este o ciclo no coração rústico das gentes. Belo soneto-canção do tempo e da memória da alma. Parabéns e um abraço do poetAtento Frassino Machado
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