SETE-DE-OUROS
Mudo e mouco vai Sete-de-Ouros, no seu passo curto
de introvertido, pondo, com precisão milimétrica, no rasto das patas da frente
as mimosas patas de trás.
- Escuta uma pergunta séria, meu compadre João
Manico: você acha que burro é burro?
- Seô Major meu compadre, isso até é que eu não
acho, não. Sei que eles são ladinos de mais…
Bem que Sete-de-Ouros se inventa, sempre no seu. Não
a praça larga do claro, nem o cavouco do sono: só um remanso, pouso de pausa,
com as pestanas meando os olhos, o mundo de fora feito um sossêgo, coado na
quase-sombra, e, de dentro, funda certeza viva, subida de raiz; com as orelhas
- espelhos da alma – tremulando, tais ponteiros de quadrante, aos episódios
para a estrada, pela ponte nebulosa por onde os burrinhos sabem ir, qual a
qual, sem conversa, sem perguntas, cada um no seu lugar, devagar, por todos os
séculos e seculórios, mansamente amém.
João
Guimarães Rosa
O
Burrinho Pedrês, in Sagarana
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