quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CORAÇÃO








Rosa Ramalho
Cristo em terracota



Preguei numa moldura o coração
e pendurei-o na parede. Ao lado,
um Cristo em terracota. Devoção
de alguém que ali o pôs crucificado.

Mas não ganhei com isso a remissão
das penas que trazia do passado.
O peito ficou oco, e a razão
com um discurso frio e transtornado.

Retive o coração no seu lugar.
Sei que tem erros, mágoas no sentir,
como tem a razão no seu pensar.

Chego à janela, abro e vejo rosas.
E o Cristo em terracota a refulgir
com cinco chagas rubras preciosas.

Abel da Cunha

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