Há poetas que torturam as palavras
no santo ofício da arte de escrever.
Quebram-lhes sílabas e sangram letras,
fazendo-as dizer o que aprouver.
Matéria dos poemas, as palavras
resistem muitas vezes ao seu usona construção das formas e metáforas.
Toleram mais a prosa que o abuso.
Mas os poetas acendem a fogueira
num quente auto de fé em que as condenam,
as palavras relapsas nos seus crimes.
E só assim descobrem a maneira
de fazer inscrições das suas penas
e produzir as Obras mais sublimes.
Abel da Cunha
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