LIVRO SEXTO
Abri
hoje o Livro Sexto
Há
tanto tempo fechado;
Fechá-lo
foi por desleixo,
Por
amor fui procurá-lo.
Abel
da Cunha
Porto, 02-07-2014
Porto, 02-07-2014
O
POEMA
O
poema me levará no tempo
Quando
eu não for a habitação do tempo
E
passarei sozinha
Entre
as mãos de quem lê
O
poema alguém o dirá
Às
searas
Sua
passagem se confundirá
Com
o rumor do mar com o passar do vento
O
poema habitará
O
espaço mais concreto e mais atento
No
ar claro nas tardes transparentes
Suas
sílabas redondas
(Ó
antigas ó longas
Eternas
tardes lisas)
Mesmo
que eu morra o poema encontrará
Uma
praia onde quebrar as suas ondas
E
entre quatro paredes densas
De
funda e devorada solidão
Alguém
seu próprio ser confundirá
Com
o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Livro Sexto, 1962
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