domingo, 27 de julho de 2014

LIVRO SEXTO











LIVRO SEXTO

Abri hoje o Livro Sexto
Há tanto tempo fechado;
Fechá-lo foi por desleixo,
Por amor fui procurá-lo.

Abel da Cunha
Porto, 02-07-2014


O POEMA

O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen
in Livro Sexto, 1962

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