VITORINO NEMÉSIO
(1901-1978)
Com
medo de o perder nomeio o mundo,
Seus
quantos e qualidades, seus objectos,E assim durmo sonoro no profundo
Poço de astros anónimos e quietos.
Nomeei
as coisas e fiquei contente:
Prendi
a frase ao texto do universo.Quem escuta ao meu peito ainda lá sente,
Em cada pausa e pulsação, um verso.
In
O Verbo e a Morte, 1959
Venham
os nomes tíbios,
O
vagar delgado e glúteo dos fonemas,Coroar delfins de sangue e sal – anfíbios
Sistemas de palavras: os poemas.
E
desçam do alto ozone carbogáseos
Conglomerados
de significaçãoA coroar-te, Leda etérea. Traze-os
Tu mesma à doce fala e à imaginação.
De
topázios não falo, que carregam
Teus
dedos nus de rápidas cintilas,Nem dos amino-ácidos que os regam
Nem
da feliz artrose do teu ombro
No
beijo de saliva que titilasAo cisne branco, todo pluma e assombro.
In
Revista Presença (número especial), 1977