terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O AFRICANO













Afonso Quinto, o rei dito Africano,
perdeu em Toro a nobre sucessão
do trono de Castela. E desde então
foi renascendo o sonho franciscano.

Não pretendia já um reino humano
de falso amor, ganância, vil traição.
De paz e bem se fez o coração
que sempre em guerra tinha o soberano.

Não desejava vénias clericais
mas hábitos honestos usuais
vivendo mais perfeita a lei divina.

Em Varatojo, ouvia no silêncio
os velhos moinhos a cantar ao vento
e um rumor puro de água cristalina.


Abel da Cunha

2 comentários:

Frassino Machado disse...

África o glorificou, a vaidade o crucificou! O sua "estrada de Santiago" foi o caminho de Lisboa às Gálias, quando havia de ser de Lisboa a Roma... estaria aí a chave do seu reinar futuro. Assim, cansado e desiludido, entregou o leme ao Príncipe Perfeito que retificou o rumo da Nação para os caminhos do Mar. Como corolário para esta sua saga restou-lhe o castigo do céu que sobre si e o Reino lançou a peste e o desprezo dos homens. E nem os ares de Varatojo, onde se refugiou, lhe trouxeram de vez o sossego à alma. É que (quem sabe?) Varatojo ficava um pouco para lá de Alfarrobeira e bastante aquém de Toro...
Frassino Machado

Cláudio Lima disse...

Um bom comentário de Frassino ao perfil histórico do Africano... No aspeto literário, considero o soneto bem conseguido, com exemplar apuro métrico e musical.
Cláudio Lima