sábado, 24 de dezembro de 2011
AS BENÇÃOS
Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma benção.
Às vezes se tenho uma tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma benção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma benção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.
Manoel de Barros
QUEM, DO NATAL?
Quem esperamos? Quem,
No silêncio, na sombra, no deserto?
O Menino divino de Belém,
Ou o rei Encoberto?
Esperamos alguém:
Qualquer que tenha o coração aberto.
É demais esta ausência, este vazio!
Quem adorar, servir, como Deus e senhor?
- O que estender a ponte sobre o rio
Da miséria e pavor!
O que apascente e que semeie em desafio!
O que disser: - Eu sou! E for.
António Manuel Couto Viana
No silêncio, na sombra, no deserto?
O Menino divino de Belém,
Ou o rei Encoberto?
Esperamos alguém:
Qualquer que tenha o coração aberto.
É demais esta ausência, este vazio!
Quem adorar, servir, como Deus e senhor?
- O que estender a ponte sobre o rio
Da miséria e pavor!
O que apascente e que semeie em desafio!
O que disser: - Eu sou! E for.
António Manuel Couto Viana
QUERIAS QUE EU TE FALASSE DE "POESIA"
Querias que eu te falasse de "poesia" um pouco
mais... e desprezasse o quotidiano atroz...
querias... era ouvir o som da minha voz
e não um eco - apenas - deste mundo louco!
Mas que te dar, pobre criança, em troco
de tudo que esperavas, ai de nós:
é que eu sou oco... oco... oco...
como o Homem de Lata do "Mágico de Oz"!
Tu o lembras, bem sei... ah! o seu horror
imenso às lágrimas... Porque decerto se enferrujaria...
E tu... Como um lírio do pântano tu me querias,
como uma chuva de ouro a te cobrir devagarinho,
um pássaro de luz... Mas, haverá maior poesia
do que este meu desesperar-me eterno da poesia?!
Mario Quintana
domingo, 18 de dezembro de 2011
DOIS POEMAS DE NATAL
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT
(1906-1965)
À PROCURA DO NATAL
Caminharei em busca do presépio
A noite inteira, meu Senhor.Não haverá porém nenhuma estrela
Para guiar meus passos:
Todas as estrelas estarão imóveis
No céu imóvel.
Caminharei em busca do presépio
A noite inteira, meu Senhor.As estradas porém estarão solitárias.
Tudo estará adormecido,
As luzes das casas apagadas,
As vozes dos peregrinos terão morrido na distância sem fim.
Caminharei ansioso, à tua procura.
Mas estarei tão atrasado,O tempo terá caminhado tão na minha frente,
Que me será bem difícil encontrar o teu recanto humilde –
Cansado encontrarei enormes cidades,
Mas a tua Cidade, Senhor, terá desaparecido.
Muitos se rirão de mim, sabendo que te procuro.
Não haverá nenhuma estrela
Para mostrar o lugar em que te encontras.Todas as estrelas estarão imóveis no céu.
Vamos ver a Estrela !
Sairemos pelas estradas, cantando,Sairemos de mãos dadas,
E acordaremos as brancas e tímidas ovelhas.
Iremos surpreendê-lo, Pequenino e Simples.
Sua Inocência Iluminará os caminhos felizes, dormindo.
Vamos ver a Estrela !
Augusto Frederico Schmidt
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